Sempre que há uma guerra, um conflito ou uma crise política internacional, ouvimos falar do aumento do preço do petróleo e, inevitavelmente, dos combustíveis. Mas porquê? A maioria das pessoas atribui esses aumentos “aos governos” ou a medidas locais, sem perceber que o preço da gasolina e do gasóleo começa muito antes de chegar à bomba.

Vamos desmontar esta realidade com clareza.

O petróleo bruto (crude) é uma commodity cotada em dólares nos mercados internacionais. Isso significa que o seu preço é influenciado por:

🌍 O crude é um produto global, não nacional

  • A procura e a oferta global.
  • A especulação dos mercados financeiros.
  • As decisões da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
  • As tensões geopolíticas em zonas produtoras.

🔥 Guerras e conflitos = menos oferta ou risco de ruptura

Quando há uma guerra ou tensão armada em regiões produtoras (como o Médio Oriente, Rússia, África, etc.), os mercados antecipam risco:

  • Risco de quebra no fornecimento.
  • Risco de ataque a infraestruturas petrolíferas.
  • Risco de sanções económicas a grandes produtores.

Mesmo que o petróleo continue a sair, o medo de que deixe de sair já é suficiente para fazer subir o preço.
É a lógica da antecipação, o mercado paga mais por algo que teme que venha a faltar.

💰 O crude sobe → O refino e distribuição encarecem → O combustível na bomba dispara

Portugal importa 100% do crude que consome. Por isso:

  • Quando o barril sobe de $70 para $90, o impacto sente-se logo na refinaria.
  • O custo de produção e transporte dos combustíveis aumenta.
  • Os operadores ajustam o preço ao consumidor final para manter margens e sustentabilidade.

Este processo é automático e quase inevitável — não depende dos governos nacionais.

🏛️ E os impostos? Não agravam o problema?

Sim, os combustíveis em Portugal têm uma carga fiscal elevada (ISP, IVA, taxa de carbono, etc.), mas isso é um fator constante, e não o principal motor de variação semanal.

O que faz o preço oscilar são:

  • As cotações internacionais do crude.
  • A variação do câmbio euro/dólar (porque compramos em dólares).
  • Os custos de refinação, transporte e distribuição.
  • A concorrência entre operadores.

📈 Exemplo prático: guerra no Médio Oriente ou conflito Rússia-Ucrânia

  • O mundo teme que o Irão ou a Rússia deixem de exportar petróleo.
  • A OPEP pode reduzir a produção para manter o preço alto.
  • Os investidores antecipam escassez e sobem o preço do barril.
  • Resultado: pagamos mais pelo gasóleo ou pela gasolina… mesmo que o Governo mantenha os impostos iguais.

✔️ Em resumo

O preço dos combustíveis não é uma decisão do Governo.
É o reflexo de uma cadeia de fatores económicos e geopolíticos com origem muito antes da fronteira nacional.

👇 Para refletir:

“Se o petróleo é global, o preço do combustível também é. E se há guerra num lado do mundo, a bomba de gasolina sente do outro.”