Todos os anos, como se de um ritual se tratasse, surgem em Agosto artigos apressados e mal fundamentados sobre os “problemas” de viajar de carro elétrico nas férias de verão. Textos escritos quase sempre por ‘curiosos’ ou por quem nunca viveu verdadeiramente a experiência de ter um elétrico. O resultado? Conclusões distorcidas, comparáveis a comprar um Aston Martin V12 e depois queixar-se do consumo e custos de manutenção ou adquirir um descapotável de dois lugares e lamentar a falta de espaço para levar a família inteira de férias.

Um Elétrico Não É Uma Moda, É Um Estilo de Vida

Antes de mais, é fundamental perceber que ter um carro elétrico não é um capricho ou uma moda passageira. É um estilo de vida que envolve planeamento inteligente, consciência ambiental, eficiência energética e, sim, também conforto e prazer de condução.

Reduzir a mobilidade elétrica a uma experiência ocasional em Agosto é o mesmo que avaliar o futebol pelo jogo mais fraco da época. Não é representativo.

Agosto Não É Espelho da Realidade

Viajar em Agosto não é exemplo de nada, seja com carro elétrico ou a combustão. As estradas estão saturadas, os destinos são os mesmos e as filas são inevitáveis. Quem decide rumar ao Algarve na segunda quinzena do mês, fá-lo em plena consciência de que estará a partilhar essa decisão com centenas de milhares de pessoas. Não se trata de um problema de mobilidade elétrica, mas de logística e escolhas pessoais.

Planeamento: A Palavra-Chave

Viajar de carro elétrico exige, tal como qualquer outra viagem de férias, um mínimo de planeamento. A diferença é que esse planeamento, quando bem feito, resulta numa viagem tranquila e sem constrangimentos.

Nas minhas próprias deslocações entre Lisboa e Algarve (entre os dias 16 e 23 de Agosto, realizei duas viagens Lisboa – Tavira – Lisboa, ambas com carros elétricos) a experiência foi simples: escolhi viajar cedo e não tive qualquer problema com carregamentos.

As filas existem sobretudo para quem decide parar à mesma hora, nos mesmos postos, muitas vezes concentrados nos carregadores Tesla com vantagens históricas de carregamentos gratuitos. Mas é precisamente aqui que entra o estilo de vida associado ao elétrico: planear é ganhar tempo!

O Mito do Carregamento Mais Caro

Outra falácia frequentemente repetida é a de que carregar um elétrico é mais caro do que abastecer com combustível fóssil. Nada mais falso. Mesmo em carregadores rápidos de rede pública, o custo por cada 100 km continua a ser significativamente inferior ao de qualquer motor a combustão. E em casa, com tarifa bi-horária, a diferença é ainda mais esmagadora.

O Algarve Como Destino Único

Portugal é um país vasto, belo e diversificado. Do Gerês ao Alentejo, da costa vicentina às Beiras, existem dezenas de destinos de férias que continuam a ser subvalorizados em detrimento do Algarve. É legítimo escolher o sul como destino, mas quem opta por seguir a maioria deve também aceitar a consequência óbvia: filas, congestionamento e pressão sobre as infraestruturas.

Não é um problema dos carros elétricos. É um reflexo da escolha coletiva.

Conclusão

Ter um carro elétrico é muito mais do que a experiência pontual de viajar em Agosto. É adotar um estilo de vida alinhado com o futuro, mais económico, mais sustentável e, acima de tudo, mais consciente. Agosto é exceção, não regra.

Por isso, da próxima vez que ler um artigo a dramatizar a viagem de férias num carro elétrico, faça o exercício de pensar: será que o problema é mesmo do carro, ou da forma como o autor decidiu viajar?